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O último natal.

A última janta em família, a última série que vemos juntas, o último pão de queijo, a última viagem de final de semana, o último encontro com as amigas, o último desencontro, a última balada, a última árvore de natal.

Dramático? Sim. Eu sei. “Mas não é o último de verdade”... Também sei disso.

Alguns anos atrás eu decidi sair do Brasil. Em busca de qualidade de vida, segurança, um futuro melhor. Em busca de uma cultura que fizesse sentido e de valores comuns. Às vezes sinto que todos os caminhos percorridos me trouxeram para este momento. Fazem mais de cinco anos que o Canadá surgiu na minha vida – na época, apenas uma faísca de possibilidades – e hoje faltam 57 dias para entrar no avião.

Conforme a data do embarque vai se aproximando, as emoções viram uma montanha russa. Dá vontade de fazer as malas e ir hoje mesmo. Ao mesmo tempo, quero aproveitar as pessoas à minha volta, curtir a rotina, sentar no sofá de casa, comer nos meus restaurantes favoritos.

Quando falo que é o “último” isso ou aquilo, não digo com uma conotação negativa, apenas como um lembrete de que precisamos aproveitar a vida todos os dias. Não me entendam mal, estou louca para ir para o Canadá. Apesar disso, fica um sentimento de melancolia (escondido lá no fundo, atrás das coisas boas) pelo que deixarei para trás.

Eu sei que tem pão de queijo no Canadá, mas não é o mesmo pão de queijo. Eu sei que teremos outras jantas em família, mas os assuntos serão outros. Tudo será diferente (será mesmo?). Penso nisso com um sorriso no rosto, pronta para virar a página e explorar um mundo novo, pois sei que sempre posso olhar para trás e apreciar com carinho todas as memórias que construí.

A sensação não é tão diferente de quando saí da escola para entrar na faculdade, ou quando saí da faculdade para encarar o mundo do trabalho. A vida nos transforma e gera mudanças, propositais ou não. O medo do desconhecido e a empolgação de um mundo novo criam sentimentos difíceis de explicar.

Não vou mentir: às vezes é apavorante. A ideia de que vou estar longe de todo mundo me faz sentir desamparada, mas ao mesmo tempo, independente. Tá vendo como é difícil de explicar? Todo esse processo mistura um lado bom e um lado ruim. Para cada coisa negativa que eu penso, vem uma coisa legal também (e vice-versa).

Pode ter sido o último natal antes da “grande mudança”, mas ano que vem nós teremos o primeiro natal no Canadá. O primeiro apartamento, o primeiro emprego canadense, a primeira vez no Tim Hortons, o primeiro poutine, as primeiras visitas, as primeiras road trips, o primeiro ano, o segundo, o terceiro...

No fim “os últimos” vão ficando pequenos e se transformando. Transformam-se em boas memórias, em expectativa de reencontro, na vontade de comer comida brasileira, em abraços no aeroporto e em conversas pelo Skype.

Enfim, escrevi tudo isso para tentar compartilhar um pouco dos sentimentos (super confusos) faltando menos de dois meses para me tornar imigrante. Sigo com expectativas positivas e me preparando psicologicamente para os perrengues da vida. Nada é eterno, então vamos viver um dia de cada vez, aproveitando as coisas boas e as pessoas amadas.

Desejo a todos um ano novo cheio de alegrias e conquistas!

Partiu Canadá! :D

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